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quarta-feira, 28 de abril de 2010

DESEMBARCAR - por Alex Prado

*por Alex Prado
Olho para a minha cidade e penso: quero partir.
Olha para minha filha mais nova, de 8 anos, e assumo: preciso ficar.
Então, entendo quando o promotor de Justiça Sidnei Boccia diz que quer logo atracar e desembarcar.
Direito dele, conquistado lá atrás, na Constituição de 1988, que lhe garantiu todas as prerrogativas para exercer o seu dever e que, agora, concede-lhe o direito de desembarcar em porto seguro, que lhe será seguro até o fim dos seus dias. Eu seguirei lutando para que todos os brasileiros possam usufruir do direito do promotor. Inclusive, estou na campanha pela redução da jornada de trabalho. Assim como pelo reconhecimento dos direitos dos trabalhadores domésticos, idênticos aos outros.
Que todos possamos desembarcar em portos seguros! Vamos juntos, Sidnei Boccia!...

Felizmente, o promotor não teve que embarcar num dos portos inseguros instalados em Poços de Caldas e, jocosamente, chamados de “amigo”. Como bem expressou Mário Seguso na sua charge, “amigo da onça”. Quando, fazendo trocadilho, o promotor brinca com a palavra “Siga”, demonstra o lado que escolheu. Mais ainda quando, do alto de sua tribuna, pública, emite juízo de valor sobre questão ainda tramitando no Congresso Nacional.
O cidadão Sidnei Boccia tem todo o direito de posicionar-se sobre as questões decididas, democraticamente, nos fóruns legais brasileiros. Já o servidor público – promotor de Justiça – deve ater-se aos códigos vigentes e, acima de todos, à Constituição da República Federativa do Brasil. Principalmente, ao capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais.
Quer desembarcar? É direito seu, senhor promotor. Mas venha enfrentar a lida como cidadão. E sentir na pele o quanto ainda nos falta de direitos; no quanto ainda somos aviltados; no quanto a Imprensa ainda não é livre; no que confundem o público e o privado.
Venha, cidadão Boccia, andar de ônibus; ou ter empregados que utilizam o transporte público. Venha, cidadão Boccia, entender o poder público gerar contratos de projetos para construção em áreas não permitidas.
Desça, promotor público, da torre de vidro que o abriga. Venha tomar uma cerveja num buteco dos bairros de Poços. Será recebido com todo o respeito. E ninguém há de lhe perguntar se tem a “ficha limpa ou suja”. Até porque, no fundo, todos nós sabemos.
*jornalista 

3 comentários:

  1. Alex o seu sentimento é o de milhares de poçoscaldenses.
    Indignados com promotor, vereadores e prefeitos, todos os representantes que deveriam abrir suas mentes para um ideal de vida maior do que essa vida mesquinha, repleta de aparências erguida sob o jugo do povo.

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  2. Alex você deveria escrever mais, muito bom seu texto a realidade daquilo que cada cidadão e cidadã de bem está sofrendo na nossa cidade que perde a identidade e suas instituições, a cada dia.

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  3. ótimo artigo que retrata a situação da nossa cidade destruída moralmente e enferrujada nos seus ideais.

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