O avestruz é aquele bicho esquisito que esconde a cabeça na vã esperança de estar se escondendo do mundo real. Aqui em Poços tinha uma figura muita simpática, boa praça, bom churrasqueiro que trabalhou muitos anos no Tiro de Guerra; dizem até que na Ditadura mandava mais que muita autoridade. Mas não é dele que estamos tratando.
Estamos tratando da entrevista que o prefeito concedeu para explicar o inexplicável – a tragédia do PIB de Poços de Caldas. Fez como o avestruz, o bicho. Enfiou a cabeça no buraco para fazer de conta que não é com ele esta história de Poços de Caldas descer ladeira abaixo na economia.
Vejamos o que diz o alcaide. Primeiro explicou que o PIB de Varginha não é bem o PIB de Varginha. Se você não entendeu não se desespere. Eu também não entendi porque ele não tem a menor idéia do que está falando. O valor decorrente das exportações em Varginha é o valor agregado pelo serviço, não é o valor produzido em outra localidade, é óbvio ululante.
Quanto à nossa cidade, a explicação beirou o ridículo. O essencial não é esta questão de ser a maior ou menor economia de uma determinada região e sim se a economia está em crescimento real, acompanhando os anos anteriores ou se não está. No nosso caso, não está. Pelo contrário, há sinais claros de contração e isto tem a ver com as políticas estratégicas de desenvolvimento que implantaram ou não no município. Insisto na gravíssima e criminosa decisão de congelar o Distrito Industrial e a incompetência na condução das questões envolvendo a construção civil. No Distrito Industrial, trouxeram a Mitsubishi... Cup!
Vamos às explicações. O alcaide reconhece que o ano de 2007 não foi dos melhores, os números também reconhecem. Veja, porem, o que ele acrescenta ao seu primeiro comentário: “Este é resultado de uma crise que estamos vivenciando. Mas vale a pena lembrar que estamos analisando dados de 2007. Acreditamos que em 2008, mesmo diante da crise, houve uma migração muito forte de empresas e de serviços para Poços de Caldas.”
Sou forçado a concordar com o alcaide. Se o PIB é de 2007, “vale a pena lembrar que estamos analisando dados de 2007”. Mas de qual crise que ele está falando? Da crise iniciada no segundo semestre de 2008? Estará ele, na condição de professor de administração, criando uma nova teoria econômica –“a da reversão temporal dos resultados das crises?” Neste caso o efeito (queda do PIB em 2007) viria antes da causa (crise de 2008). Teoria para prêmio Nobel.
Se no ano de 2007, sem crise econômica, Poços de Caldas regrediu, como seria possível em plena crise de 2008, reverter esta tendência? Seria outra teoria, provavelmente – “a teoria dos sinais cruzados”. Quando o Brasil cresce, nós encolhemos; quando o Brasil encolhe, nós crescemos. Para ilustrar sua tese, poderia o alcaide explicitar quais empresas e serviços que “migraram fortemente” para Poços de Caldas e quais seus impactos na geração de emprego, renda e riqueza. Desconfio de conversa fiada para desviar o foco da discussão.
O Brasil já saiu da crise. Já passou da hora de começar a trabalhar de fato e deixar de atribuir aos outros a responsabilidade que é apenas dele próprio. O primeiro passo é tirar a cabeça do buraco!