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domingo, 8 de agosto de 2010

MEU PAI


Passamos na frente do bar do Biga em Pinhal e ele me levava pela mão. Não me lembro quantos anos tinha, talvez uns sete. Parou em frente ao bar, olhou para dentro e me disse com a voz firme que, às vezes, metia medo - "Se eu souber que voce entrou aqui, vamos ter uma conversa". Os anos se passaram, não entrava no bar, mas a curiosidade era imensa. Adolescente, venci o medo e a obediência, fui conhecer o bar. Parecia muito grande, balcões e mesas na frente, mesas inglesas de sinuca nos fundos, muita fumaça, conversa e o barulho simultâneo das tacadas. Fiquei ali um tempo, olhando e tentando entender a ordem do meu pai. Um dia, ansioso pela sua reação, contei-lhe que havia conhecido o bar. Olhou-me calmo e respondeu - "Agora voce pode, sei que não será um jogador". Meu pai tinha aversão ao jogo, mesmo um inocente baralhinho em casa. As lições de meu pai vinham assim, aos poucos, mais de gestos e exemplos que de conselhos. Eu o sinto vivo nas generosas lembranças, como o calor das mãos que nos enrolavam em cobertas nas noites de rigorosos invernos!

Um comentário:

  1. Rubens Caruso Jr.09/08/2010, 10:33

    E o copinho de café preto na cama, para despertar antes de ir pra escola?
    Que falta fazem nossos velhos...

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