ENTREVISTA AO JORNAL CORREIO DA SERRA

Correio da Serra  – Paulo Tadeu está apto a disputar eleições?

Paulo Tadeu - Se a pergunta trata da questão política estou certo que minha história de vida, a coerência política, o compromisso com as causas populares, minha relação de afeto por Poços de Caldas, a região e sua gente, a experiência acumulada nestes anos, respondo sem dúvidas que sim. Se a pergunta aborda o caráter formal, legal, posso afirmar que para alegria dos meus amigos e uma certa decepção dos adversários, que não há nada que impeça minha postulação à Assembléia Legislativa.

Correio da Serra -  Por que candidatar-se a deputado estadual numa dobradinha com Odair Cunha? Existe algum projeto político para região sul do estado?

Paulo Tadeu - Sim, a idéia é exatamente essa, defender um projeto de desenvolvimento regional, integrando políticas públicas do Estado e da União. Trabalhar em sintonia com as novas expectativas da sociedade em geral, vencendo essa tradição de deputados despachantes e ávidos por aparecer em fotos de conquistas que, frequentemente, não lhes pertencem. A integração regional pressupõe o papel das universidades federais e estaduais, a implantação de estações multimodais de cargas, com destaques para a aviação. Exige presença efetiva diante do executivo mineiro para buscar uma reforma tributária que atenda os interesses de municípios limítrofes com São Paulo.  Odair Cunha, apesar de muito jovem, vai se consolidando como a mais expressiva liderança do Sul de MInas. Muito corajoso e com inacreditável capacidade de articulação seu trabalho é reconhecido até por adversários. Defendemos uma presença forte em BrasÍ lia, uma presença forte em Belo Horizonte e uma atuação sintonizada com o sul de Minas.

Correio da Serra - Durante sua contribuição no governo Lula junto a GASMIG trouxe o gás natural para Poços de Caldas. Qual o benefício deste investimento para nossa região?

Paulo Tadeu - São dois momentos diferentes. O primeiro, como prefeito, quando junto com o Zeca Brochado trabalhamos intensamente para aproximar a Petrobras e o governo de Minas. Em 2002 após  a eleição de Lula conseguimos incluir no Programa de transição, este projeto que visualizava a construção do gasoduto Paulínia- Jacutinga. A partir daí, como as relações entre Lula e Aécio eram mais construtivas, o acordo entre a Petrobras e a Cemig saiu, sendo assinado em 2004. A conquista foi nossa, o reconhecimento do nosso trabalho veio em forma de convite para integrar o Conselho de Administração da nova GASMIG e da IBIRITERMO, uma usina termelétrica da Petrobras. O gas natural para Poços de Caldas e região só se rivaliza em importância estratégica para o desenvolvimento com a sub-estação de Furnas. É uma pena que as administrações que se seguiram a nossa não foram capazes de aproveitar este conquista para dar um salto econômico no município.

Correio da Serra - O programa Luz Para Todos esteve também sob sua gestão. Que tipo de experiência social isso traz para sua vida política e um possível mandato?

Paulo Tadeu - O Luz para Todos foi um acontecimento na minha vida. Foi emocionante trabalhar com eletrificação rural, levar energia para lugares inexpugnáveis. Fiquei quase três anos no programa, coordenei os esforços que resultaram em 300.000 ligações em regiões quilombolas, agricultura familiar, assentamentos, aldeias indígenas, ilhas de pescadores e comunidades isoladas. Distribuímos mais de seiscentas bibliotecas rurais, quase duzentos centros comunitários de produção, dezenas de centros de inclusão digital. Tenho muitas grandes lembranças do Programa Luz para Todos - a equipe com que trabalhei, chefiada pela ministra Dilma Roussef, o grupo de coordenadores estaduais e agentes que liderei, mas muito marcantes mesmo foram os momentos de inauguração. Pessoas de setenta e oitenta anos que não conheciam a luz elétrica, índios, donos originais da terra, cujas aldeias próximas de grandes centros urbanos não dispunham de energia. Momento especial foi quando levei uma lamparina de cristal de Poços ao presidente Lula para comemorar 250.000 ligações, naquele momento, em minha região e que foi manchete dos grandes jornais brasileiros.

Correio da Serra - Elenque, na sua ótica, os principais problemas que atrapalham o desenvolvimento de Poços de Caldas e região.

Paulo Tadeu - O maior problema é politico. Aqui ainda prevalece a visão de que a política é apenas disputa, não se pode perder. Não há projetos estratégicos, não há entendimento, não se aproveita a conjuntura de crescimento econômico em benefício das populações. É o poder pelo poder, é o poder como sesmaria a distribuir benesses aos apadrinhados. Quase rompemos com isso em passado recente, mas infelizmente não pudemos dar continuidade. O que se vê hoje é uma cidade em situação de decadência econômica, sem crescimento, perdida em uma péssima política de transporte coletivo, faltando responsabilidade com o serviço público, com contratações suspeitas como o Instituto Sollus, sucateamento do DME e do DMAE, até água contaminada distribuiram para a população. O que há de bom são políticas federais - a Universidade, o Instituto Tecnológico, o SAMU, a recuperação das estradas, o bolsa família, o Minha Casa, MInha Vida. É preciso ousar, pensar regionalmente, ter projetos de longo prazo, trazer empresas, gerar empregos; resgatar as políticas públicas de saúde, dar agilidade à Justiça, colocar Poços no mapa de desenvolvimento.

Correio da Serra - Um deputado estadual tem poderes para interferir na questão do transporte público junto a Secretaria Estadual de Transporte. Você, sendo eleito, tem coragem para exigir melhorias no transporte urbano?

Paulo Tadeu - Se não tem gerência, tem poder político. Jamais ficaria neste silêncio conveniente e cúmplice, denunciaria na Assembléia, exigiria uma postura do Ministério Público, articularia a grande imprensa. O povo está sofrendo e quem tem poder faz de conta que está tudo bem. O desastre do transporte coletivo é resultado de uma gestão incapaz, de uma administração que não sabe o que está fazendo na prefeitura. Os deputados locais são responsáveis pelo que está acontecendo, foram eles que apoiaram o atual prefeito. Se não dizem nada, é porque concordam.

Correio da Serra - O trabalhador paga, atualmente, um ICMS absurdo na conta de energia elétrica, isso é imposto do estado. Tem alguma proposta de redução do impacto desse imposto na conta de energia?

Paulo Tadeu - Esta já é uma luta do PT em Minas Gerais, este ICMS é um exagero. Tenho certeza, porque já tratei deste assunto com Hélio Costa, que haveremos de rever estas alíquotas absolutamente injustas e que penaliza o povo pobre.

Correio da Serra - Sobre Poços de Caldas. A cidade não avançou nos últimos seis anos. Não chegaram empresas, nem empregos. Aumentou o IPTU, a taxa de lixo, o valor da passagem e por último o grave problema da água. Nenhum deputado veio a público defender a população. Você é do tipo que tem medo quando o assunto envolve empresas e empresários?

Paulo Tadeu - É verdade , desperdiçaram o melhor momento da história deste país. Todo o Brasil cresceu. Na nossa gestão, com o país em crise, sem desenvolvimento e sem dinheiro, conseguimos fazer Poços crescer 55% em quatro anos. A gestão após a minha foi um desastre, além de quebrarem o DME, a cidade só cresceu 8% em período igual, enquanto o Brasil crescia 20-25%. Agora não há dúvida, o prefeito e os interesses empresariais tem agenda prioritária com os deputados e a maioria dos vereadores. O povo paga mais caro por um transporte pior, aumentaram a taxa de lixo, mentiram para o povo sobre a qualidade da água, as obras estão paradas, há recursos federais disponíveis e não utilizados. Não é preciso fazer bravata, é preciso ser sério. Empresário respeita político sério. Enfrentamos problemas muito sérios quando estivemos na prefeitura - acabamos com a mineração clandestina na época, enfrentamos multinacionais e acabamos com o envenamento do Bortolan.

Correio da Serra - Odair Cunha é deputado federal por dois mandatos, tem 34 anos e já se apresenta como uma das maiores lideranças nacionais. Sua eleição para deputado estadual facilita o acesso à Brasília e aproxima Poços de Caldas do cenário nacional, uma vez que Odair Cunha é o representante do Sul de Minas junto ao governo federal?

Paulo Tadeu - Sem dúvida. Este é o projeto, uma ação conjunta em defesa de Poços e região. Seria fundamental para Poços estar representada pelo deputado Odair em Brasília e por mim em Belo Horizonte. Especialmente, com a clara perspectiva de vitória da Dilma para presidente e Hélio Costa governador.

Correio da Serra - Paulo Tadeu eleito deputado estadual garante o que em 12 meses, no primeiro ano de mandato? E a longo prazo o que fazer por Poços e região?

Paulo Tadeu - Trabalho e compromisso com a população. Falar a verdade sempre. Coragem sempre que necessário e moderação quando for imperativo. Prestar contas de fato, criar uma rede de mandato coletivo para dar ao povo o direito de definir em conjunto os rumos do trabalho legislativo. Trabalhar pela região, pelas pessoas, com a serenidade e vigilância que aprendi em Minas, mas com a firmeza que se espera de quem se apresenta para representar nossa cidade, nossa região e nosso Estado.