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quarta-feira, 31 de março de 2010

31 DE MARÇO E 1 DE ABRIL DE 1964

Tinha dez anos e morávamos meu pai, minha mãe e seis irmãos - o caçula viria no ano seguinte. Lembro-me do clima de aflição, dos embates, dos argumentos gritados e do país que se dilacerava a partir dali. Um soturno tempo de coturnos abria-se como um guarda-chuvas sombrio sobre sonhos de liberdade e justiça,  brotando quase espontaneos sobre o mapa verde-amarelo rabiscado nos cadernos de geografia. Não seríamos mais os mesmos, o Brasil encolhia-se repetindo seus desastres históricos de crueldade e desprezo pela sua gente. Vieram as ruas, a coragem, os homens meninos e as mulheres meninas de braços dados "enfrentando canhões". Estarreceram-se ante a covardia, a tortura, o exílio, os assassinatos frios e calculados, desaparecimentos e desespero. As mães sem filhos, os órfãos de pai e mãe, as cartas violadas, as noites insones, as fugas sem resultados. Crescíamos no medo e na coragem, nuvens noturnas e escancarados sóis. Éramos heróis aos outros olhares e meros sobreviventes ao nosso espelho. Opressivos tempos de asfixia;  a força bruta esmagando a sutileza e a sensibilidade. Hinos de ódio pisoteando a poesia e o sonho; os generais mais perto e Deus mais longe. Não tenho saudade nem ódio; só não esqueço e tampouco me regalo na mesma ceia dos que torceram pela miséria da liberdade e apertaram o garrote da ignomínia!   

7 comentários:

  1. Meu caro Paulo
    Quando ainda nos seus puros dez anos de idade e vivendo maravilhosamente no interior de um país ainda miserável com poucos bolsões de riqueza não tinha noção do que se pretendia fazer e no que ocorreu naquela data que, para uns, foi uma verdadeira revolução e, infelizmente, para outros, um movimento de repressão.
    A foto que você colocou no seu blog, de um tanque do Exercito brasileiro é muito significativa. Naquele exato momento da foto, comandado pelo então capitão Etchegoyen , o blindado deixava o Palácio Laranjeiras, depois da fuga vergonhosa do então presidente João Goulart para o Rio Grande do Sul. Era o Exercito que estava ali, oferecendo condições de segurança ao Presidente da República que, em nenhum momento, soube preservar as instituições. Naquela época, o Julião, no Noerdeste, com a Liga Camponesa, tentava sublevar o país. O Almirante Aragão e seus marinheiros instigavam a quebra da hierarquia e da disciplina. Vivia-se a anarquia. Mas você, meu caro Paulo, tinha apenas dez anos e não viveu essa fase da nossa história.
    Quatro anos depois, aquela que você deseja ver como suprema mandatária do nosso país era uma guerrilheira maldita assim como José Dirceu, Genuíno, Pimentel e tantos outros. Mas você, meu caro Paulo, que ainda jogava bola e gude e soltava pipa não podia entender as atrocidades que esse pessoal fazia. Foram assaltantes de bancos, mataram friamente militares e muitos, covardemente, fugiram para o Chile, Cuba, Argélia sendo que alguns poucos se deliciavam com os prazeres de Paris.
    O seu Brasil também é o meu Brasil. A grande diferença é que eu estava ali, naquele exato momento da foto que você publicou, defendendo o meu país. Essa história você não viveu. E me sinto feliz por ter propiciado a você, naquela época, o direito à liberdade para continuar estudando e se formar e poder, no dia de hoje, dizer o que quer e o que pensa. Se o curso da história fosse outro, hoje , estaríamos idolatrando Fidel (com 50 anos de ditadura ) fazendo apologia a “Che” e achando tudo maravilhoso. Forte abraço.

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  2. Adão Venturini01/04/2010, 10:40

    É criminosa a fala deste "anônimo", que defende a ditadura militar. Eu também viví aquele período do medo, mas tive a coragem de me erguer e lutar contra mentes criminosas, como a do "anônimo". Lutei sim, sem nunca ter acreditado na luta armada. Minha luta foi a de consciência, derrotando dia, após dia, o coração das trevas, até conquistar o dia. Minha luta foi, como a de milhares de brasileiros do bem, para convencer o povo brasileiro de que a democracia é uma conquista civilizatória, imprescindível para um país avançar forte e honrado. Tenho orgulho de ter participado do levante estudantil, que se somou à rebelião operária que começou no ABC e cresceu até se tornar o movimento Diretas Já. Tenho orgulho do Brasil que construímos. Nós vencemos, "anônimo", vocês perderam, porque caminham na contra-mão da civilização. Nós queremos a luz, vocês preferem a escuridão.

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  3. O excepcional ponto de vista acma só esqueceu de mencionar o roubo do cofre do Adhemar, cujo montante serviria para equipar os aparelhos...
    E enquanto Lamarca foi guindado ao posto de General, a família de Kozel vive do minguado soldo de sargento.

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  4. e as consequencias socioeconomicas que a ditadura gerou?!? seguir o modelo norte-americano de vida naum eh somente insustentavel num planeta limitado,naum eh somente um pensamento colonizado, eh uma estupidez e arrogancia de quem pensa apenas sob seu ponto de vista, pensa com o bolso e se esquece das mazelas produzidas e perpetuadas pelo capitalismo. ´´a resistencia de uma corrente eh medida naum pelo seus elos mais fortes,mas ao contrario,pelo mais fraco´´

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  5. Adão Venturini01/04/2010, 15:25

    Veja o que nos proporciona a democracia, que gente como eu e milhares de brasileiros do bem conquistamos. O "anônimo" ai de cima pode falar livremente, embora não tenha coragem de revelar seu nome. Realmente, as posições criminosas e anti-humanidade que defende envergonham mesmo. Ele deve ter vergonha de dizer quem é, inclusive porque é da turma que se esconde nos porões escuros, para torturar, machucar, sequestrar, ameaçar, assassinar. Torturadores como como esse anônimo foram uma escrecência, que infelizmente povoou a história da humanidade no século XX. Eles foram os nazistas, facistas e stalinistas na Europa, os generais e seus simpatizantes na América do Sul. Felismente foram para o lixo da história. A voz desse anômino covarde vem do lixo, mas ele tem o direito de colocá-la neste blog democrático. Os generais não deram este direito a uma geração inteira, foi por isso que alguns jovens bem intencionados, mas equivocados pegaram em armas. Eles também perderam como o anônimo. Venceram os democratas, como eu, que não acreditam nas armas para fazer revolução. Nós acreditamos no poder das paçavras, na força dos argumentos. Nós vencemos, porque acreditamos na democracia. Nós estamos no poder, porque a democracia é o estagio mais avançado da política.

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  6. Ao ler todos os comentários vejo que, de um lado, existe um diálogo aberto e democrático, sem ofensas e apenas externando um ponto de vista (o anônimo) e de outro lado( Adão )uma pessoa destilando ódio, rancor e, sobretudo, falta de equilibrio emocional quando se tenta democraticamente colocar posições e pensamentos.
    Aqueles que só ouviram falar da história de 1964 quase nada conhecem da realidade brasileira. TODOS FORAM VENCEDORES.Cada um com a sua visão histórica. A democracia é um constante aprendizado. Ela se conquista no dia a dia. E é isso que os radicais nunca vão entender. Parabens ao "anônimo" que de forma equilibrada colocou suas ideias e seus ideais. Triste aqueles que não sabem o que é liberdade e o direito de poder se exprimir livremente respeitando os ideais do próximo.
    Prezado Adão: estude um pouquinho mais de história e só depois abra o seu coração carcumido de ódio. Pense num Brasil melhor. Você deve ser muito jovem e ainda não aprendeu o que é realmente DEMOCRACIA. Aposto que em 1964 nem era nascido...Estude mais um pouquinho pra não dizer tanta besteira.
    Célio Cortezino

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  7. Adão Ventura05/04/2010, 11:25

    Prezado Célio:
    Faço mestrado de ciências políticas na UNICAMP, embora o golpe de 1o de abril não seja assunto de meus estudos. Minha monografia será sobre comportamento eleitoral. Mas, não é por estudar um pouco de ciências políticas que me meto nesta questão. O fato é que participei da luta contra a ditadura. Não sei de que lado você estava na época, portanto desconheço seu grau de informações sobre o pessoal que resistiu à ditadura. Pois é, haviam várias correntes na época; algumas acreditavam na luta armada (equivocadamente, na minha opinião). Outros grupos discordavam da opção armada por diversos motivos. Eu fui de uma organização que sempre foi contra a luta armada, por acreditar que isso só levaria à derrota. Preferíamos um paciente trabalho de conscientização, qua acabou se mostrando a alternativa mais correta. Nesse trabalho, nunca fugimos ao enfrentamento nas ruas, junto com o povo. Participavamos de passeatas, greves, manifestações, ocupações de fábricas, reitorias de universidades. Promovíamos exibições de filmes, peças de teatro e cultos ecumênicos. Apoiávamos movimentos pela anistia, pelos direitos humanos, contra a discriminação.
    Mesmo atuando desarmados, sempre contrários á violência, muitos de nós foram presos, torturados e alguns foram mortos. Eu e minha namorada fomos presos em uma passeata no Rio e até hoje sinto a dor e cigarros apagados na pele, de toalhas molhadas espancando todo o meu corpo, da angustia da falta de ar dos afogamentos. Minha namorada, além de sofrer agressões semelhantes sofreu dolorosos constrangimentos morais. Foram três dias em uma cela infecta, dormindo em meio a urina e fezes. Pura maldade, pois nós e outras dezenas de jovens estudantes presos (todos entre 18 e 25 anos) naquela manifestação de 1978 pro-anistia não tinhamos nenhuma informação a dar. Os policiais queriam apenas nos intimidar, para que o medo nos impedisse de continuar lutando pelo que acreditavamos.
    Não conseguiarm. Não me lembro de ninguém que tenha compartilhado aquelas três noites de terror que tenha desistido.
    Portanto, senhor Célio, eu creio que, se você for uma pessoa de bem, vai entender que não tenho sangue de barata e não posso aceitar como uma coisa normal e corriqueira a defesa daqueles que torturaram, ameaçaram, estupraram e mataram tanta gente. Alguns nos agrediram fisicamente, outros mandaram agredir e houve aqueles que apoiaram tantas atrocidades... todos compartilham esses crimes hediondos. Na Argentina estão sendo julgados e condenados, espero que isso aconteça aqui um dia.

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