DRA. ZILDA ARNS
*Paulo Tadeu
Morreu tragicamente no Haiti, simbolicamente, entre os pobres e destroços de um grande terremoto. Em um país carregado de grande simbolismo, resultado mais cruel da ganância dos conquistadores e do domínio secular europeu sobre a América e o Caribe. O Haiti nunca mais se encontrou, perdido em disputas pelo nada, fracionado na mais tenebrosa ignorância e miséria. Foi lá que a Dra. Zilda Arns morreu.
A médica pediatra encarou o desafio lançado ao seu irmão Dom Paulo Evaristo Arns, outro justo, e colocou o pé na estrada para mostrar que não era normal nem determinação divina a morte de tantas crianças pobres. Aplicou métodos conhecidos pela medicina, mas criou estratégias de mobilização popular capazes de contornar a frieza e distanciamento das burocracias; fez brotar o mais vigoroso voluntariado na luta contra a mortalidade infantil; desvelou às mães tímidas e desconfiadas um mundo de possibilidades de vida saudável para si e seus filhos e, por extraordinário, vale mencionar a eficiência com que gerenciou e fez gerenciar os recursos que recebia. Lutou para obter recursos públicos e privados para sua obra, mas ao resultado de sua incansável persistência deu ares de milagre da multiplicação.
Fundou a Pastoral da Criança, deu exemplos a governos e instituições de como trabalhar uma questão tão desafiadora em países mais pobres – de dinheiro ou de espírito. Sua missão atendeu a mais de dois milhões de crianças, serviu de modelo às políticas de saúde do Brasil e mais de vinte países; acompanhou mais de oitenta mil gestantes, arregimentou mais de cento e cinqüenta mil voluntários; espalhou-se em milhares de cidades brasileiras (setenta por cento delas, talvez!). Toda dimensão de seu trabalho não pode ser reconhecido apenas pelos números espetaculares. Dra. Zilda conversava, acreditava no diálogo e participação, encontrava soluções coletivas. Enquanto buscava dar conta de seu desafio cada vez maior, seu trabalho conscientizava, despertava e construía possibilidades e cidadania.
Se ao Padre Vieira coubesse descrevê-la é certo que ele usaria a inspiração de seu Sermão da Sexagésima. Diria que “suas palavras deram frutos, por isso plantou amor no coração dos homens; que perseverou, amou sem limites”.
Diria, enfim, que Dra. Zilda “não pregava, semeava. Porque o semeador dá o exemplo, faz a obra e vive a palavra”.
*Paulo Tadeu é ex-prefeito de Poços de Caldas e militante do PT.
Paulo Tadeu:
ResponderExcluirJusta homenagem a uma senhora que viveu para os pobres e morreu entre eles. Você com suas palavras conseguiu sintetizar o que todos nós brasileiros pensamos sobre a vida e a obra desta mulher ilustre e iluminada que não morrerá jamais no coração daqueles que hoje choram a sua morte.
Parabéns ilustre Pinhalense que trabalhou e trablha por um mundo melhor!
ANA EUDÓXIA E MARIA AMÉLIA
O Haiti deveria ser o ponto de partida para uma nova ordem mundial: o da união e da solidariedade entre as nações.Os bons estão fazendo o que podem , mas os melhores estão indo embora.
ResponderExcluirUm abraço do seu irmão
André